SUPERANDO A ANÁLISE FRAGMENTADA DA DOMINAÇÃO: UMA REVISÃO FEMINISTA DECOLONIAL DA PERSPECTIVA DA INTERSECCIONALIDADE

Tenoch Yakecan
5 min readNov 30, 2023

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Decolonialidade, interseccionalidade, feminismo, racismo, perspectiva negra e gênero.

A escritora e teórica do feminismo decolonial Yuderkys Espinosa Miñoso em sua obra Superando a Análise Fragmentada da Dominação: Uma Revisão Feminista Decolonial da Perspectiva da Interseccionalidade engloba a Teoria Crítica da Decolonialidade. Uma abordagem que emerge da interseção entre a teoria crítica e a teoria decolonial, que busca desafiar as estruturas de poder e conhecimento impostas pelo colonialismo e imperialismo. Gerando uma compreensão completa das formas pelas quais a opressão colonial, em suas diversas manifestações históricas e contemporâneas, continua a moldar o mundo contemporâneo e perpetuando desigualdades sociais, culturais, políticas e econômicas. Visando desmantelar a narrativa hegemônica imposta pelo colonialismo, que muitas vezes reforça visões eurocêntricas e hierárquicas do mundo. Criticando ás estruturas de poder que marginalizaram culturas, conhecimentos e perspectivas não-ocidentais, resultando em uma compreensão distorcida da história e da realidade de muitos grupos étnicos e culturas.

Exacerbando a importância de reconhecer e valorizar os conhecimentos e perspectivas das culturas marginalizadas. Incentivando a ação social e política para criar transformações nas estruturas sociais e no acesso igualitário ao poder e aos recursos. Notando os limites do olhar imposto pelo Ocidente, que apresenta um tratamento especializado, compartimentado, classificatório aos fenômenos sociais, impedindo, assim, vislumbrar sua interdependência.

As normas de gênero são padrões socialmente construídos que determinam comportamentos, papéis e identidades baseados nas categorias de masculinidade e feminilidade. Influenciadas por estruturas de poder, incluindo aquelas decorrentes do colonialismo e do imperialismo. Ideia de que as normas de gênero eurocêntricas são superiores ou mais “avançadas” do que outras perspectivas. A valorização de práticas e identidades de gênero não-normativas que podem ter sido historicamente marginalizadas.

A interseccionalidade é um conceito teórico que reconhece as múltiplas formas de opressão e discriminação que as pessoas podem enfrentar quando diferentes identidades, como raça, classe e gênero, se sobrepõem e interagem. Esse termo cunhado pela professora e ativista Kimberlé Crenshaw nos anos 1980 e ajuda na compreensão das complexidades das desigualdades sociais. Enfatizando que as identidades não podem ser consideradas isoladamente, mas sim como interconectadas e interdependentes. Gerando um ativismo comprometido com diferentes lutas, dada a multiplicidade de opressões que as atravessavam.

“Raça” não é separável nem secundária à opressão de gênero, mas sim co-constitutiva. Mulheres de diferentes grupos étnicos podem enfrentar formas distintas de sexismo e racismo. Por exemplo, mulheres negras podem enfrentar discriminação que é única para sua intersecção racial e de gênero, o que pode ser diferente das experiências de mulheres brancas ou de outras raças. Interseção de Classe e Gênero, mulheres de diferentes classes econômicas podem experimentar disparidades em suas vidas devido à interseção entre gênero e classe. Mulheres de classes sociais mais baixas podem enfrentar desafios específicos relacionados à pobreza, enquanto mulheres de classes mais altas podem ter acesso a recursos que reduzem alguns desses desafios. A opressão, baseada na ideia de diferença sexual (como ficção reguladora e produtora de materialidade), não trabalha de forma separada e está irremediavelmente co-constituída dentro da matriz de poder, que é moderna e colonial e, portanto, racista e capitalista.

Há uma dificuldade da razão feminista em abandonar o gênero como categoria fundamental de sua análise. O feminismo decolonial é uma abordagem dentro do movimento feminista que se concentra na interseção entre gênero, raça, classe e colonialismo. Como as estruturas de poder colonial influenciaram e continuam a influenciar as experiências das mulheres de diferentes origens étnicas e culturais, e como essas experiências são moldadas por múltiplas formas de opressão. Há uma tendência do feminismo ocidental em considerar suas próprias experiências e preocupações como universais. As abordagens feministas precisam ser sensíveis às diferentes realidades. A importância de reconhecer e valorizar os conhecimentos e práticas das mulheres de culturas colonizadas, que frequentemente foram marginalizadas ou apagadas. Isso inclui a compreensão das formas de resistência e saberes tradicionais. As hierarquias de gênero estão intrinsecamente ligadas às hierarquias raciais. Mulheres não-brancas frequentemente enfrentam formas específicas de opressão que decorrem da interseção entre gênero e raça. As normas e padrões de beleza, feminilidade e comportamento que são frequentemente impostos por uma perspectiva eurocêntrica. A solidariedade entre mulheres de diferentes origens étnicas e culturais, reconhecendo que suas lutas estão interligadas. Construção de alianças e ações conjuntas para enfrentar as diversas formas de opressão. Autodeterminação das mulheres para definir suas próprias agendas e lutas, sem serem ditadas por perspectivas coloniais ou hegemônicas. ma especificidade de teorização feminista negra e uma separação da política do feminismo branco-burguês. Há uma tendência dentro do feminismo e de outros movimentos sociais de minimizar o papel da teoria na produção da prática política.

Áreas, como Africa e Américas, foram permanentemente marcadas geopoliticamente pela colonialidade, que se expressa em uma dependência política, econômica, cultural e epistêmica. Experiências de um racismo “assimilacionista”, derivado da estratégia e ideologia da miscigenação , que impediu ou retardou o surgimento de uma identidade racial e de uma política dela derivada.

A relação entre decolonialidade e pensamento afrodiaspórico refere-se à intersecção entre a abordagem decolonial e as perspectivas intelectuais, culturais e políticas provenientes das diásporas africanas. A diáspora africana engloba as comunidades descendentes de africanos que foram escravizados. O pensamento afrodiaspórico emerge dessas experiências e histórias, trazendo consigo uma visão única sobre a opressão, resistência, cultura e identidade. A decolonialidade quando conectada ao pensamento afrodiaspórico, reconhece a influência profunda do colonialismo na vida das pessoas de descendência africana, bem como nas formas de opressão que elas enfrentam. As narrativas eurocêntricas que têm perpetuado ideias depreciativas sobre as culturas africanas e afrodiaspóricas. Incorporar as contribuições culturais, intelectuais e históricas dessas comunidades. Reconhece e valoriza os saberes, conhecimentos e práticas das comunidades afrodiaspóricas, que muitas vezes foram marginalizados ou negados pelo colonialismo. Isso inclui tradições religiosas, formas de cura, expressões artísticas e outras manifestações culturais. Ressalta as lutas de resistência históricas e contemporâneas das comunidades afrodiaspóricas contra o racismo, a opressão e a exploração. Formas de resistência cultural, política e social. As análises de dominação (opressão, poder, desigualdade) podem se concentrar em uma única dimensão, negligenciando como diferentes sistemas de opressão interagem e se reforçam mutuamente.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

MIÑOSO, Yuderkys Espinosa; ZIROLDO, Nadia Luciene. Superando a análise fragmentada da dominação: Uma revisão feminista decolonial da perspectiva da interseccionalidade. Revista X, [S.l.], v. 17, n. 1, p. 425–446, mar. 2022. ISSN 1980–0614. Disponível em:

O PENSAMENTO DECOLONIAL para superar a Colonialidade e o Racismo Epistêmico | Suze Piza.

KABENGELE MUNANGA — RAÇA, RACISMO E ETNIA

CHIMAMANDA ADICHIE: O PERIGO DA HISTÓRIA ÚNICA.

UM FEMINISMO DECOLONIAL — COM FRANÇOISE VERGÈS

PATRICIA HILL COLLINS | FEMINISMO NEGRO E A POLÍTICA DO EMPODERAMENTO

O PENSAMENTO DE ANÍBAL QUIJANO E ENRIQUE DUSSEL: crítica à Modernidade como aporte decolonial. (Bernard Guedes Dariva, Cláudia Battestin, Bruno Huffel de Lima)

DE SOUZA OLIVEIRA, Elizabeth; LUCINI, Marizete. O Pensamento Decolonial: Conceitos para Pensar uma Prática de Pesquisa de Resistência. Boletim Historiar, v. 8, n. 01.

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